Músculo com memória? Isto é possível?

Celafiscs – Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul

Qual não foi a pessoa que parou de treinar por alguma causa e logo que retornou à rotina dos treinos recuperou rapidamente a forma perdida. Muitas vezes ouvi profissionais da área das ciências do esporte afirmar que um indivíduo quando para de treinar, mas retorna aos treinos recuperam mais rápido a sua condição física. De fato, isto acontece mesmo. Entretanto, este fenômeno era atribuído aos ajustes neurais e não aos mecanismos do músculo esquelético. Pois bem, esta facilidade de retornar mais rápido às condições anteriores leva o nome de “memória muscular”. Por exemplo, um estudo revelou que mulheres que treinaram durante 20 semanas para aumentar a força e foram submetidas a um período de destreino de 20-30 semanas foram capazes de recuperar a força em apenas 6 semanas de retreino.

Recentemente, um grupo de pesquisadores da Universidade de Oslo, na Noruega, investigou este fenômeno, mas do ponto de vista muscular. A idéia que temos é que a quantidade de mionúcleos é aumentada à medida que uma fibra hipertrofia. Esta é uma das justificativas de domínio mionuclear. Contudo, se esta mesma fibra atrofiar a quantidade de mionúcleos também reduz. Partindo, é claro, da mesma idéia anterior.
Para testar os efeitos da hipertrofia e da atrofia sobre os mionúcleos Bruusgaard JC et al submeteram ratos wistar machos a um treinamento de sobrecarga por um período de 21 dias. Ao final deste período a área de secção transversa aumentou em 35%, enquanto o número de mionúcleos 54%. Nesta fase da pesquisa os autores concluíram que os mionúcleos precedem o processo de hipertrofia, já que o aumento dos mionúcleos aconteceu antes do aumento da área de secção transversa.

Em paralelo, a pesquisa observou o efeito da desnervação em outros ratos, simulando o desuso do músculo. Primeiramente os ratos foram submetidos a 14 dias de treino, no qual a área de secção transversa aumentou em 35% e os mionúcleos em 37%. Com mais 14 dias submetidos à desnervação a área de secção transversa reduziu em 40% do máximo atingido anteriormente. Entretanto, o número de mionucleos não foi afetado de forma significante neste período.

O fenômeno da memória muscular parece estar ligado também às alterações intrínsecas decorrentes no tecido muscular e não simplesmente por ajustes neurais. Contudo, outras pesquisas são necessárias para esclarecer melhor estas possibilidades.
Com todas as questões abordadas este artigo além de identificar um mecanismo periférico responsável pela memória muscular, no mínimo, põe em check o fenômeno do domínio mionuclear.

Aguardemos as pesquisas avançarem para entendermos melhor este fenômeno.

Referência
Bruusgaard JC; Johansen IB; Egner IM; Rana ZA; Gundersen K. Myonuclei acquired by overload exercise precede hypertrophy and are not lost on detraining. PNAS.2010

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